As duas pulgas
Max Gehringer. Na
Rádio CBN Curitiba em 01.03.2012
empresas caíram e caem na armadilha das mudanças drásticas de coisas que não
precisam de alteração, apenas aprimoramento. O que lembra a história de duas
pulgas.
Duas pulgas estavam conversando e então uma comentou com a Outra:
– Sabe qual é o nosso problema? Nós não voamos, só sabemos saltar. Daí nossa
chance de sobrevivência quando somos percebidas pelo cachorro é zero. É por
isso que existem muito mais moscas do que pulgas.
E elas contrataram uma mosca como consultora, entraram num programa de reengenharia
de vôo e saíram voando. Passado algum tempo, a primeira pulga falou para a
outra:
– Quer saber? Voar não é o suficiente, porque ficamos grudadas ao corpo do
cachorro e nosso tempo de reação é bem menor do que a velocidade da coçada
dele. Temos de aprender a fazer como as abelhas, que sugam o néctar e levantam
vôo rapidamente.
E elas contrataram o serviço de consultoria de uma abelha, que lhes ensinou a
técnica do chega-suga-voa. Funcionou, mas não resolveu. A primeira pulga
explicou por quê:
– Nossa bolsa para armazenar sangue é pequena, por isso temos de ficar muito
tempo sugando. Escapar, a gente até escapa, mas não estamos nos alimentando
direito. Temos de aprender como os pernilongos fazem para se alimentar com
aquela rapidez.
E um pernilongo lhes prestou uma consultoria para incrementar o tamanho do
abdômen. Resolvido, mas por poucos minutos. Como tinham ficado maiores, a
aproximação delas era facilmente percebida pelo cachorro, e elas eram
espantadas antes mesmo de pousar. Foi aí que encontraram uma saltitante
pulguinha:
– Ué, vocês estão enormes! Fizeram plástica?
– Não, reengenharia. Agora somos pulgas adaptadas aos desafios do século XXI.
Voamos, picamos e podemos armazenar mais alimento.
– E por que é que estão com cara de famintas?
– Isso é temporário. Já estamos fazendo consultoria com um morcego, que vai nos
ensinar a técnica do radar. E você?
– Ah, eu vou bem, obrigada. Forte e sadia.
Era verdade. A pulguinha estava viçosa e bem alimentada. Mas as pulgonas não
quiseram dar a pata a torcer:
– Mas você não está preocupada com o futuro? Não pensou em uma reengenharia?
– Quem disse que não? Contratei uma lesma como consultora.
– O que as lesmas têm a ver com pulgas?
– Tudo. Eu tinha o mesmo problema que vocês duas. Mas, em vez de dizer para a
lesma o que eu queria, deixei que ela avaliasse a situação e me sugerisse a
melhor solução. E ela passou três dias ali, quietinha, só observando o cachorro
e então ela me deu o diagnóstico.
– E o que a lesma sugeriu fazer?
– “Não mude nada. Apenas sente no cocuruto do cachorro. É o único lugar
que a pata dele não alcança”.
MORAL: Você não precisa de uma reengenharia radical para ser mais
eficiente. Muitas vezes, a GRANDE MUDANÇA é uma simples questão de
reposicionamento.